Pesadelos Mascarados | Capítulo Sete



Capitulo Sete – É preciso amor




Petra é um reflexo do que nossa civilização foi um dia. Ver aquela cidade conservada com todos os seus aspectos originais é uma das experiências mais impressionantes que o ser humano pode ter. Primeiro por que tudo aquilo parece muito irreal, é mais um cenário de Indiana Jones, mas você podia sentir a textura das colunas ao tocá-la. Enfim, incrível.


Havia muitas pessoas, de todos os lugares e de todas as idades lá. Pessoas fazendo as mais aleatórias atividades que se possa imaginar, como andar de camelo e dormir. Andei um pouco pela Câmara do Tesouro onde, segundo Yardim, Hayali estaria. Lá era o lugar mais apinhado de toda Petra, até por ser o lugar mais conhecido, contudo eu não consegui destacar ninguém lá com um Xamã maluco. Então eu vi um homem sentado no chão e analisando a palma da mão de uma mulher, ele estava falando inglês, pude destacara algumas palavras como: pessoa certa, lugar errado...

Aproximei-me dele e me demorei um tempo a analisar sua estatura. Devia estar na casa dos cinqüenta anos, mas devido às situações de vida sua aparência era de quem estava entrando nos setenta. Ele falava arrastado, sua garganta devia estar seca e a mulher que estava se consultando com ele estava atenta a tudo o que ele dizia, como num transe.
Lembrei da infância, daqueles relógios de bolso que fazia os olhos dos personagens de desenhos animados girarem e por fim hipnotizavam-no, lembrei também do Flautista de Hamelin conduzindo a multidão de roedores ao rio e dos encantadores de serpentes que as seduziam apenas com o canto da flauta. Perguntei-me se não era isso que ele estava fazendo com as suas frases poéticas, hipnotizando as pessoas.

A mulher já havia saído e Hayali me fitava atentamente, talvez estudando a minha nacionalidade para saber que idioma falar, ele engoliu em seco e comprimiu os lábios, eu vi que ele estava verdadeiramente precisando de água e ofereci uma pequena garrafa de água que estava na minha mochila, perguntei se queria, em inglês, e ele apenas meneou a cabeça positivamente.

Acomodei-me a sua frente sentando no chão de areia sem me preocupar. Fiquei o tempo todo o observando bebericar calmamente a água fazendo pausas regulares. Quando enfim terminou, agradeceu-me com a voz um pouco mais segura e perguntou a respeito de que eu queria falar com ele. Demorei um pouco para achar as palavras certas e resolvi começar do inicio.

- Eu estava em Nova Iorque, - comecei calmamente. – e lá conheci uma bela mulher, seu nome era Sandra e nós tivemos uma relação sexual. Naquele mesmo dia quando acordei, notei sua ausência e dormi novamente. Tive um sonho estranho, era muito real, eu sentia todas as texturas e aromas do lugar. Lá ainda havia uma mulher perfeita, do jeito que eu sonhava, feita sob medida para mim e nós tivemos fizemos amor.No dia seguinte acordei totalmente esgotado e com sinais de polução noturno.

“Considerei tudo aquilo normal, mas quando estava caminhando para uma reunião encontrei um cartaz alegando que um homem chamado Yardim oferecia ajuda espiritual, li a descrição e achei que me identificava com ela. Mais tarde naquele mesmo dia procurei-o e ele me disse que eu estava sonhando com uma Succubus e se ela tornasse a me aparecer você era única pessoa que ele conhecia que poderia me ajudar!

Ele ficou parado, como uma estatua. Ainda processando a minha história, depois de um tempo refletindo ele decidiu falar, e para mim foi uma surpresa, parecia um oráculo grego falando. Era possível notar até uma pequena mudança na voz.

- As Succubus nunca aparecem por acaso. A um motivo e o seu, creio eu, é machucaste muitos corações. Tu pisares hostilmente no amor, você feriu muitas mulheres, usou-as como seres inanimados e as Succubus não perdoam. Elas não descansarão até que seja extraída até a última gota da sua energia sexual a menos que...

- A menos que...? - Induziu-o cheio de curiosidade na voz.
- Você se apaixone. É preciso amor para destruir uma Succubus, elas jamais invadem o coração de um homem apaixonado.
- Mas isso pode demorar anos! – Impus.

- Talvez. – Ele respondeu enigmaticamente. – Mas é a única forma.
Mirei-o sem reação. Eu havia percorrido meio mundo para que um velho decrépito me dissesse que eu preciso me apaixonar. Eu sinto que isto é impossível para mim, não é possível que eu estivesse fadado a ser sugado por aquela Succubus. Eu já ia me levantando e saindo quando me lembrei que tinha que gratificar Hayali e ao tirar a carteira do bolso ele fez um gesto de recusa e disse:
- A sua bondade e sua gratidão já me foram suficientes. – Ele disse se referindo a água que eu dei a ele alguns minutos antes.


Eu continuei então a vagar pela Câmara dos Tesouros, os pensamentos distantes. E tudo o que vinha a minha cabeça era que ou eu enlouqueceria e me suicidaria ou eu morreria por ausência de movimento muscular. Hayali era muito poético, tudo o que ele me falar fizera-me refletir muito. Eu nunca pesei na possibilidade de ter partido realmente corações, a maioria das garotas com quem eu saia eram interesseiras. Queriam apenas sexo e eu as satisfazia.

Eu precisava saber mais, quem sabe preleção de onde eu encontraria esse amor. Resolvi voltar para o lugar e fazer mais um milhão de perguntas à Hayali, mas ele já não estava lá, havia apenas uma inscrição na areia, onde se dizia: Porto Seguro.

Aquelas palavras possuíam um milhão de significados, poderia ser o nome de algum porto de qualquer lugar do mundo, mas... Estava escrito em português e com iniciais maiúsculas. Então era uma cidade! Puxei meu i-phone e fiz uma pesquisa rápida no Google, era uma cidade litorânea da Bahia. Eu já sabia para onde ir assim que chegasse no Brasil.

O jeito era voltar para a capital e lá eu decidiria o que fazer, por que, afinal, mais uma viajem estava em vista. Recoloquei o i-phone cuidadosamente na bolsa e fui caminhando para o motorista que me levaria. O vento estava vindo em torrentes e espalhava areia por todo o ambiente, a situação chegou a um momento tão critico que eu tive que proteger meus olhos com as mãos, para que eles não fossem irritados.

Continuei a caminhada cega. O vento não parava e estava vindo a uma velocidade que faziam o toque dos minúsculos grãos espetarem a pele dos meus braços. Senti um corpo esbarrando em mim e instantaneamente abri os olhos. Ela também estava protegendo os olhos e ao desprotegê-los para olhar em quem esbarrou a ventania se aquietou.

Seus olhos eram de um verde-azul penetrante e ela deu um meio sorriso extremamente contagiante, mantendo a postura do olhar séria. Era sexy. Eu havia esbarrado na pessoa certa.
- Desculpe-me. – Falei em português sem me lembrar que não sabia a nacionalidade dela e rapidamente me refiz. – I’m sorry.

- Eu falo português. – Ela me respondeu com um sotaque brasileiro.
- Você é brasileira? – Perguntei bobamente.
- Sim. – Ela respondeu e não pode esconder o sorriso desta vez bem mais aberto. – Prazer, Christina Souza.

- Charlie Sampaio, o prazer é todo meu. – Retribui e peguei sua mão esquerda. Mirei aquela face delicada e em seguida a beijei. Isto havia a impressionado. – Para onde está indo agora?
- Para a capital. Já terminei por aqui. – Ela falou calmamente, mantendo a compostura.
- Hoje é seu dia de sorte. Por acaso, meu motorista me aguarda para ir para lá. – Respondi um pouco receoso de que ela recusasse.
- Eu adoraria. – Respondeu, para minha total surpresa.