Capitulo Dez – A aniversariante dos
sonhos
O salão era iluminado por pequenas lamparinas nas paredes, contudo era de um grande lustre
de cristal disposto no teto que parecia pender toda a iluminação. O restaurante
era contemporâneo de culinária francesa, a decoração expressava ideias
burgueses de refinamento, como um dos quadros perto do par que fazia alusão ao
famoso quadro de Manet, Almoço na Relva.
Eu
estava sentado em uma mesa posta para duas pessoas, todavia eu estava sozinho e
apenas uma taça de vinho rosé havia sido servida. Eu sabia muito bom por que
estava ali, não era o meu tipo de lugar preferido, mas o de Albha. Eu estava em
mais um daqueles sonhos malucos, contudo as circunstancias pareciam bem
diferente das anteriores.
Fui
desviado dos meus pensamentos ao surgimento de uma linda mulher a minha frente,
morena de olhos verdes vibrantes e sorriso hipnótico. Estava vestido um vestido
em tubo revestido de paité negro e com colares de uma pedra extremamente negra,
em outras circunstancias diria que estava indo a um enterro, mas estava mais do
que adequada à ocasião.
-
Charlie! – Cumprimentou-me encarando meus olhos como só ela fazia, o que me
deixava excitado.
-
Albha, você está encantadora. – Galanteei num tom transparente.
-
É impressão sua, estou me vestido compostamente. Já sou uma senhora de... 750
anos!
-
Não eram 749? – Perguntei incrédulo, era difícil lidar com uma imortal.
-
Hoje é o meu aniversário. – Respondeu sem muita empolgação.
-
Isto merece uma comemoração, portanto. – Eu disse com um tantinho mais
empolgado.
-
Talvez sim, talvez não.
-
Ah, não fale assim. Não um sinal sequer de velhice decrépita em sua face.
-
Quizá este fosse o problema. –
Suspirou.
-
Então qual é?
-
Em breve você descobrirá.
-
Oh, como fui mal educado. – Me repreendi e aproximei-me dela para dar-lhe um
abraço. – Meus parabéns eu desejo-te tudo o que é de mais feliz, e muitos anos
de vida. – Até parece, ela é imortal!
-
Receio que isto não adiantará.
-
Pare com isto, é o seu aniversário não o seu velório.
Ela
não respondeu, apenas inspirou o ar como se procurasse conter um choro.
-
Precisamos conversar. – Anunciou com tom de relutância na voz.
-
Pode falar... – Assenti.
-
Esse nosso lance, cresce a cada sonho como uma bola de neve e é impossível
conter a formação de vínculos entre nós, pelo menos eu não pude conter. –
Começou.
-
Você não entende? Eu estou apaixona por você! – Exclamou.
-
E-eu t-também. – Gaguejei. – Mas não posso me prender a ilusões, você faz bem
ao meu coração, mas não ao meu corpo.
-
Receio que este problema será resolvido muito em breve.
-
Você está falando da minha viagem?
-
Que viajem???
-
Para Porto Seguro, na Bahia, estarei indo amanhã. Um Xamã em Petra apontou este
lugar para eu encontrar um amor real.
-
Você está insinuando o que? Que o nosso amor não é real?
-
NÃO! CLARO QUE NÃO! Eu quis dizer um amor físico...
-
Eu quero que você saiba que me dói muito ter que estar aqui e dizer o que eu
vou dizer, mas eu não tenho outra opção. Sua vida precisa seguir um rumo, um
rumo mais certo que eu. Eu te amo e não quero te machucar, eu vou morrer por
isso, mas será inevitável.
-
O que você está falando?
-
Eu espero que um dia você possa entender. Levante-se e venha comigo.
Eu
respondi positivamente ao seu comando e deixei-me guiar por ela até um local
mais reservado do restaurante, onde havia um pequeno jardim de inverno com
plantas artificiais.
-
O que você realmente quer?
-
Te dar um beijo.
-
Só isso? Você pode dar quantos beijos você quiser, na hora que quiser, posso te
dar muito mais.
-
Esse é diferente.
-
Ora, por quê?
Ela
respondeu, mas foi bem embaraçosa esta parte, só me lembro de que nos beijamos
e aí a cena se desfez e eu estava acordado com Thaís ao meu lado.