Leia capítulo 3
Capitulo Quatro – Pesadelos Mascarados
Wall Street é considerada o coração histórico
do atual Distrito Financeiro e lá se localiza a bolsa de valores mais
importante do mundo. Ela se desenvolve em uma curva aberta margeada por
edifícios magnânimos e alguns arranha-céus. Um lugar impecável, cheio de bancos,
cada qual com uma bandeira da nação estadunidense hasteada. Toda ganância
estava lá.
Por algum motivo, não
pude estacionar em frente ao banco no qual investiria 30% da minha humilde
fortuna e tive de deixar o carro a mais de um quilometro de distancia do banco.
Enquanto caminhava desdenhosamente para o meu destino não pude deixar de notar
que havia alguns cartazes coloridos fixados em alguns postes.
O que mais me chamou
atenção foi um imprimido em um papel especial que muda de cor conforme a
posição da luz e no momento estava verde. Nele estava escrito: “Yardım, ajuda espiritual” e logo abaixo
havia uma descrição: “Os sonhos refletem
os nossos conflitos internos e nossas necessidades. Mas existem alguns sonhos
que aparentam ser bons, porém esvaziam toda energia de quem o sonha. São os
pesadelos mascarados. Visite-nos!”
Coincidência ou
destino? Aquele cartaz estaria ali por um motivo especial ou o tal de Yardim
não passaria de um vigarista?
Enquanto continuava a caminhar em direção ao banco aquela idéia ficou impregnada na minha mente. Por alguns instantes pude reviver a sensação que senti ao acordar na primeira vez, eu estava tão esgotado que nem os olhos eu conseguia abrir. Anotei o endereço contido no cartaz mentalmente para dar uma passadinha lá depois de ir ao banco.
Eu nunca acreditei
muito nessa coisa de ajuda espiritual, mas quando aconteceu comigo minha
impressão mudou completamente. Percebi então que já havia chegado aonde queria
e entrei no imenso edifício.
A reunião não fora das
mais instigantes. Por duas horas eu fiquei ouvindo os prós e contras do meu
ato, caso fosse concretizado e eu prestei atenção até nos mínimos detalhes e
depois da explicação de alguns gerentes e investidores e após assistir a um
vídeo montado com alguns trechos de telejornais sobre a queda da bolsa eu
recebi um contrato e alguns folhetos ao qual li atentamente.
É claro que eu não era
o único ouvindo toda aquela explicação, havia ainda um russo, um alemão, um
inglês e um coreano na sala junto comigo. No fim todos nós havíamos assinado o
contrato e pelo que eu soube o coreano apostou tudo na bolsa de valores. Eu
havia investido menos, apenas 30% do que eu tinha e saí completamente
satisfeito de lá.
Pelo que eu tinha agendado
mentalmente, depois de Wall Street eu faria uma pequena visita a Yardim e ver o
que ele poderia fazer por mim. O lugar onde ele dava seus conselhos espirituais
era bem longe de Manhattan e por isso eu tive que dirigir por quase uma hora
para chegar até ele. Só esperava que todo aquele esforço valesse à pena.
O endereço correspondia
a uma casa no subúrbio de Nova Iorque. A vizinhança era completamente deserta.
Nas demais casas da rua não se viam nenhum movimento, havia até uma pracinha lá
perto com alguns balanços, mas apenas o vento ocupava aquele espaço. A casa
estava em péssimo estado de conservação com a tintura caindo aos pedaços e a
madeira da porta estava completamente apodrecida, eu nem conseguia imaginar
como a parte de dentro deveria ser.
A melhor coisa a se
fazer naquele momento era entrar de volta no meu carro e ir para longe daquele
lugar suspeito, mas, mesmo que relutante, dei três batidas na porta esperando
algum resultado. Um homenzinho miúdo e de cabelos rebeldes abriu a porta com
uma expressão um pouco desdenhosa.
- O que deseja? –
Perguntou com um tom suspeito, ainda sem abrir a porta completamente, apenas o
necessário para que eu pudesse ver seu corpo.
- Eu quero falar com
Yardim. – Respondi em tom autoritário para mostrar que eu não fiquei nem um
pouco intimidado com a postura misteriosa dele e do ambiente.
- Sim. – Sussurrou com
uma voz sinistramente rouca mais para si mesmo do que para mim. – O que mais
você desejaria? Mestre Yardim está a sua espera.
Finalmente ele abrira a
porta totalmente e eu pude ver o ambiente por completo. A parte interna da casa
fugia completamente ao que eu esperava. As paredes estavam em perfeito estado,
como que se estivesse recém-pintadas e alguns quadros estavam dispostos na
parede, contudo o elemento mais presente no ambiente eram velas. Velas
multicoloridas e de vários tamanhos, o que deixava o ambiente ainda mais
medonho.
- Por favor, me
acompanhe. – Um homenzinho que abriu a porta pediu e eu o acompanhei
sorrateiramente. Ele parara de frente a uma porta que estava em estado melhor
que a de entrada e a abriu com leveza. Eu tentei acompanhá-lo, mas ele interpôs
meu ato com a mão e eu estanquei onde estava. Alguns segundos depois ele fez
sinal para que eu entrasse.
- Sente-se. – Uma voz
terrivelmente grossa comandou e eu obedeci. O dono da voz imperativa que eu
ouvi não estava à mostra, ele estava de costas em uma cadeira giratória e com o
passar de alguns instantes ele virou-se e eu pude ver sua face magra e olhar de
censura.
- Bom dia. –
Cumprimentei sem saber o que dizer.
- Poupe-me dos seus
cumprimentos. – Reprimiu nada educadamente e eu ouvi um baque na porta.
Virei-me automaticamente para ver o que houvera, mas era apenas o nanico que
abandonara a sala. – Não se assuste com Sempati. Ele é assim mesmo. Medonho.
As palavras dele não
pareceram me acalmar nem um pouco e eu estava cada vez mais alerta. Não sabia o
que dizer.
- O que veio fazer
aqui? – Perguntou sem nenhuma alteração na voz para um tom mais amigável.
- Eu li um dos seus
cartazes e me recordei de um sonho que tive na noite passada que me deixou
completamente esgotado pela manhã. – Expliquei rapidamente.
- Conte-me mais. –
Estipulou no mesmo tom, mas eu estava demasiado inseguro. – O que ouve neste
sonho?
- Havia uma mulher. –
Comecei sem saber bem o que dizer. – Nós conversamos e ela era extremamente
linda, no fim acabamos transando, mas eu fiquei completamente esgotado quando
acordei.
- E sobre o que
conversaram?
- Nada em especial. –
Respondi prontamente. – Ela disse algumas coisas desconexas dizendo que ali era
o meu mundo, que ela era intrusa e que sua natureza não lhe permitia ser
renegada por um home.
- E ouve poluções
noturnas? – Perguntou quase que sabendo a resposta.
- Sim. Mas como você
sabe? – Eu quis saber curiosamente.
- Pelo simples fato de
que eu já sei qual é o seu mal. – Concluiu prontamente, mas continuando com o
tom misterioso. – É um mal raro. Que dificilmente atinge homens comuns, mas
você certamente deve ter quebrado muitos corações. Elas gostam desse tipo de
homem.
- Do que você está
falando? – Pressionei e ele se levantou da cadeira. Mirando-me do alto, com um
olhar de desprezo e pena ao mesmo tempo.
- Das Succubus é claro.
– Disse-me como se fosse obvio. – Elas atacam mais a monges do Oriente Médio e
dificilmente vêm ao ocidente. Você foi um caso raro.
- E o que eu faço para
tirá-las dos meus sonhos? – Indaguei como uma criança cheia de esperança, mas
lamentei com a resposta.
- Nada. Apenas espere
até anoitecer e se ela aparecer novamente tente recusar um contato sexual. Mas
se você não conseguir resistir eu só posso lhe aconselhar uma coisa: vá à
Turquia e converse com os Xamãs de Petra.
- Mas, até onde eu sei
a Succubus não passa de uma lenda e lendas não existem. – Provoquei-o para
saber se tudo não passava de um blefe.
- Você está
efetivamente certo. – Concordou para minha imensa surpresa. – Mas a Succubus
não é como os vampiros ou lobisomens. Elas são demônios dos sonhos,
imaginários, que não conseguem pular para o plano físico e por isso enlouquecem
os homens durante o subconsciente.
Não percam o 5 º capítulo na semana que vem!
Uma web novela do João Paulo Alves